Neide
Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB
Nos romances como Moby Dick e O Velho e o
Mar
ou na história de Jonas
o animal é algo nobre
e a vida
- é um duelo par-a-par.
(Affonso Romano de
Sant´Anna. A morte da baleia).
O ensaio do jornalista Fernando Moura sobre o poema de
Affonso Romano de Sant´Anna – “A morte da baleia”, publicado no “Correio das
Artes” maio de 2013, Ano LXIV, No. 3 p. 4-16, nos levou ao encontro do livro
infantil de Paulo Venturelli – “Visita à baleia” (Ed. Positivo, 2012), com
ilustrações de Nelson Cruz. Os textos são bem distintos, mas o personagem é o
mesmo – a baleia.
Se no poema de Affonso Romano de Sant´Anna a denúncia
aflora nos versos, na prosa poética de Paulo Venturelli é o encantamento que
este animal desperta na mente das crianças. Com “Visita à baleia”, Paulo Venturelli ganhou
o Prêmio de Melhor Livro Infantil da FNLIJ em 2013 e a ilustração de Nelson
Cruz foi Hors-Concours do Prêmio de Ilustração pela mesma Fundação.
O espaço escolhido para a história é a cidade de Brusque,
interior de Santa Catarina, não banhada pelo mar. Assim, quando o pai chegou
com a notícia em casa de que havia uma baleia no centro da cidade, a mãe e os
dois filhos ficaram com “os olhos arregalados até não mais poder” (2012: p.9).
E veio o convite-ordem:
“Vamos, vamos, Se aprontem que a gente vai até lá ver o
bicho”. (p.9)
A mãe não acreditou em nenhum momento nessa história e
dizia que era impossível aparecer uma baleia em uma cidade que não tinha mar,
mas o pai e os meninos estavam curiosos para ver a baleia. Com roupa
domingueira, partiram os três em direção ao centro. De bicicleta, seguiram para
a grande festa. O pai no meio, o caçula na frente e o mais velho no bagageiro. A mãe ficou em casa resmungando e duvidando da
veracidade da história.
O caminho da casa até o centro da cidade era acidentado,
cheio de ladeiras e o menino mais velho, o narrador da história, fez muitas
perguntas ao pai sobre a baleia, mas só encontrou respostas evasivas – a única
coisa que ele sabia era que existia uma baleia no centro da cidade e que os
colegas da fábrica estavam indo com a família para ver.
Quando chegaram à praça, o menino viu a multidão e se
arrependeu de ter vindo, poderia ter ficado em casa com a mãe, brincando com o
Beto, era muito mais vantagem. Para piorar a situação, havia uma fila enooorme
e que não caminhava, parecia que estava parada. O desconforto da espera piorou quando o irmão
menor começou a pedir “chovete” e ameaçava um choro para conseguir o que
queria, mas o pai só pensava em ver a baleia e repetia: “Depois. Depois o pai
compra.” (p.28).
Enquanto esperava pelo momento ambicionado, o menino mais
velho começou a relembrar fatos passados. Certa vez foi com o pai a um circo
que apareceu na cidade. Pagaram ingresso para ver a “mulher barbuda”. Todos
deviam passar bem depressa diante da mulher barbuda, o pai não gostou do engodo
e gritou feio:
“Cadê a lazarenta da barbuda? Aí no escuro, bem que pode
ser homem. Bem que pode ser uma idiota com barba postiça” (p.32). Veio a
pessoal do circo acalmar o homem que estava furioso. O menino sentiu-se
envergonhado diante do escândalo do pai. Será que ele ia fazer o mesmo diante
da baleia?
A surpresa da história fica para o leitor do livro. Não
quero desvendar o mistério que envolve a baleia. Seria uma baleia viva ou
morta? Só lendo o livro para saber.
No dia seguinte, quando foi à escola, a professora deu
este tema para a composição:
“Uma árvore frutífera”. O menino arriscou e
perguntou à Dona Deolinda: “Posso fazer sobre a baleia?” (p.50). A professora
não titubeou: “Deixa de ser bobo, menino. Escreva o que eu mandei”. (p. 50)
O menino vai obedecer à ordem da professora? É outro
segredo que está escondido no livro.
“Visita à baleia”
é rico de imagens literárias, de devaneios, de entrecruzar de pensamentos, de
linguagem coloquial bem descontraída. Aliado a tudo isso, destacam-se as ilustrações
de Nelson Cruz - sombrias, ternas, extravagantes, algumas minúsculas, outras
grandiosas. Contrastando com o preto de
muitas páginas, aparece o azul celeste do céu e do carro “rabo de peixe” do
doutor Nica.
A respeito deste livro, o ilustrador Nelson Cruz assim se
expressou: “Este livro Visita à baleia, do
Paulo Venturelli, me concedeu o dom da invisibilidade. Explico. A maneira de
narrar a história, como uma conversa ao pé do fogão, me envolveu desde o
princípio. [...] Numa inversão, os personagens tornaram-se vivos e eu,
invisível, acompanhei cena por cena até o desfecho e a lágrima final, que me
trouxe de volta à realidade.” (Orelha do livro Visita á baleia).
Tivemos a oportunidade de assistir, no 15º. Salão do
Livro, Paulo Venturelli contar a história da baleia para crianças de escolas
municipais e Nelson Cruz desenhá-la. As
crianças, muito atentas, pareciam não querer perder um só momento dessa
aventurosa história.
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