sexta-feira, 5 de abril de 2013

Carta para Beatriz




Beatriz,

Nasceste em um dia de domingo, às 11h26min, durante a copa do mundo de 2010. O calendário marcava 27 de junho. O dia estava ensolarado, talvez por esse motivo, a equipe titular que seria comandada pela Doutora Cleaci já estava toda bêbada na orla da capital. Todavia, deixe-me dizer, a equipe reserva fez um belo trabalho. Todos muito atenciosos, em especial, o anestesista. Ele foi o fotógrafo oficial de nossa primeira foto em família.
Vieste ao mundo pelas mãos habilidosas de Cleaci. Uma senhora simpática, não muito jovem, mas também não muito velha, que sempre dizia, “de certeza”.Tinhas uma marca rosa de polegar na testa  e um potencial vocal extraordinário. Teu apgar foi 10/10. Colocaram um líquido vermelho em tua boca e nariz, o que te fez chorar ainda mais alto. A enfermeira te limpou rapidamente e colocou-te na balança. 3625g. Medias 50 cm. Depois, ela te colocou em meus braços em um pacote muito bem feito . Tu eras tão pequena quanto a lágrima que agora rola em minha face.  Levei-te para perto de tua mãe. Ela, como sempre, foi discreta ao chorar. Foste levada ao berçário do hospital. Fui no teu encalço. Acho que o banho não te agradou muito. Gritavas insistentemente. Na verdade, todas as crianças gritavam, mas eu só ouvia o teu grito. Chamei-te pelo nome:
- Beatriz, por que você está chorando, minha filha?
A enfermeira me olhou assustada, pois paraste de chorar imediatamente e teus olhos foram a minha procura.
- Nunca vi isso na vida, disse assustada a enfermeira.
- Desde que ela foi concebida, eu falo com ela. Acho que já reconhece minha voz, confidenciei.
O fato é que eu estava ali, ao teu lado. Como havia tomado o dobro de comprimidos que tomo, estava um pouco aéreo. Estava anestesiado pelo remédio e por minha alegria. 27 de junho de 2010 foi o dia mais feliz da vida do teu velho pai.

Escrevi muitos poemas pra você.  Peço, entretanto, que guardes com carinho especial este que segue. Sei que do ponto de vista estético não é tão belo, mas veio do fundo do coração. Escrevi enquanto chorava ou chorava enquanto o escrevia. Acredite, ainda não sei.




Cantiga para Beatriz

Voa Beatriz, voa minha filha,
Faz de mim um campo de lírios
E pousa, pousa como as borboletas pousam
Na voz das rosas, calando-as como em oração.

Vem Beatriz, vem minha pequena,
Vem sem medo,
Repousa tua alma nas nuvens do orvalho
Porque eu estarei aqui, velando teu sono alado.

Ah, se tu soubesses quantas vezes
Eu andei a procurar-te por entre os pássaros,
Quantas vezes te encontrei nos meus braços
E embalei tua ausência com meu coração.

Oh, Beatriz, minha amada,
Quando um clarão de eternidade
Expandir-se por entre meus dias cansados,
Guarda-me, minha princesa,
No reino de tuas lembranças.

IV  de junho de 2010


Também peço que lembres de mim ao ouvir a canção O filho que eu quero ter de toquinho e Vinícius. É a canção que mais me emociona e a que sempre cantava pra você, mesmo nos tempos de sua vida intra-uterina.
Quando você conseguir ler este depoimento, ainda espero estar vivo. Mas se não me for permitido, saiba que seu pai tentou ser um bom pai, tentou ajudar sua mãe a te educar e te oferecer sempre o melhor.

Com muito amor,
Jairo Cézar
Paraíba, 19 de fevereiro de 2013.

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