Por Neide Medeiros Santos – Crítica literária/FNLIJ/PB
Não tenham medo de falar quando sabem que
estão no seu direito. O medo nunca foi uma fonte de segurança.
(Palavras pinçadas da
autobiografia de Wangari Maathai)
Wangari Maathai é natural do Quênia, país africano
situado na costa oriental da África. O
Quênia pertenceu durante muitos anos ao Reino Unido, somente em 1963 conseguiu
a libertação. Wangari Maathai nasceu em 1940, sob o domínio inglês, e sempre
batalhou pela independência do seu país. A história de sua vida, a defesa em
prol dos quenianos, está contada no bonito livro “Wangari Maathai – a mulher
que plantou milhões de árvores”, de Franck Prévot, com ilustrações de Aurélia
Fronty. No Brasil, a tradução foi feita
por Janaína Senna e a editora Record (Galerinha) foi responsável pela edição
deste livro.
Quem é realmente Wangari Maathai? É uma professora
queniana, defensora das florestas e que obteve em 2004 o Prêmio Nobel da Paz por
sua contribuição em favor do desenvolvimento sustentável, da democracia e da
paz em seu país e no mundo. Ela conseguiu mudar a paisagem de sua terra natal –
o Quênia.
Nasceu na época em
que a mulher ainda vivia subalterna ao homem, mas lutou, venceu preconceitos,
recebeu uma bolsa de estudos para os Estados Unidos e saiu vencedora na vida e
na luta em favor dos oprimidos.
Vamos conhecer um pouco da vida dessa mulher admirável.
Wangari ouviu sua mãe dizer quando ainda era bem pequena:
“Menina, uma árvore vale mais que sua madeira!” Essa lição acompanhou a sua
vida inteira.
Quando era jovem, seu pai trabalhava para o senhor
Neylan, um dos colonos britânicos que era considerado o dono da região onde
moravam. Os britânicos confiscaram as melhores terras e
abateram muitas árvores para plantar chá.
Com o passar do tempo, Wangari foi
entendendo que tudo aquilo estava errado. A escola e o estudo abriram-lhe os
olhos, precisava fazer alguma coisa em prol dos quenianos.
Alguns anos se passaram, Wangari foi à escola, ingressou
no colégio Santa Cecília, dirigido por religiosas italianas e depois frequentou
a escola secundária Loreto, perto de Nairóbi. Em 1960, o senador americano John
F. Kennedy convidou 600 jovens quenianos para estudar nos Estados Unidos. Como
era aluna brilhante, Wangari integrou a equipe dos estudantes selecionados. Durante
cinco anos frequentou universidades americanas e formou-se em Ciências. Ao voltar para seu país, os britânicos não
eram mais os donos da terra, mas os quenianos haviam aprendido com os
britânicos a destruírem as árvores. Aqui começou sua luta para reconstrução da
natureza. A tarefa foi árdua, teve que vencer inúmeras barreiras, convencer seu
próprio povo da necessidade de plantar árvores.
Ao
percorrer o Quênia para estudar sua fauna, ficou chocada com o que viu, havia
poucos animais, a plantação dos ricos substituíra as lavouras de subsistência,
os rios estavam barrentos, não havia mais as raízes das árvores para proteger suas
margens. A desolação de ver seu país sem animais e sem árvores levou-a a tomar
uma atitude que iria beneficiar o Quênia e muitos outros países. Sua missão
agora era convencer os dirigentes do mundo todo que a floresta é um dos mais
preciosos tesouros da humanidade. Seu lema: “Protestar e plantar milhões de
árvores podia ajudar a mudar a vida de mulheres e homens, fossem eles brancos
ou negros, ricos ou pobres, dali ou de outro lugar!” (2013:p. 21) .
Wangari lutou para impedir a construção de uma torre de
60 andares em pleno coração do parque Uhuru com uma imensa estátua do ditador
queniano Daniel Arap Moi que dirigiu o país por 23 anos. Protestou para que uma
grande imobiliária não se instalasse na Floresta Kakura, o que colocaria em
extinção várias espécies de animais. Sua luta foi vitoriosa. Esses fatos
levaram um queniano a fazer essa observação: “Senhora Wangari Maathai, a
senhora é o único homem que ainda nos resta neste país!” (p. 27).
Em 2002, o presidente Daniel Arap Moi foi substituído, perdeu
as eleições e Wangari se elegeu deputada. Pouco tempo depois, o novo presidente
nomeou-a ministra do Meio Ambiente. Hoje Wangari é conhecida no Quênia como “a
mãe das árvores”.
Em 2004, recebeu o Nobel da Paz por seu trabalho em prol
da natureza. Foi a primeira mulher africana que recebeu essa distinção. Ao
receber o Prêmio, ela pronunciou essas palavras: “Adoraria convocar os jovens
para se dedicar a atividades que contribuam para a realização de seus sonhos em
longo prazo. Eles têm a energia e a criatividade necessárias para construir um
futuro duradouro”.
A história de Wangari Maathai é narrada em páginas
coloridas, salpicadas de muito verde. As cores são tão vivas quanto o sol
brilhante das savanas. É um livro que encanta pela beleza das ilustrações e
pela bonita história dessa brava mulher que se tornou defensora das árvores –
figueiras, sequoias, baobás.
Em 2011 o coração de Wangari deixou de bater, mas a sua
lição de proteger a natureza, o amor às plantas e aos animais ficou para
sempre. Seu nome será lembrado durante muito tempo pelos quenianos e seu
exemplo deverá ser seguido pelas gerações futuras e por todos os amantes da
natureza.
( Texto publicado no jornal “Contraponto” – 16 a 22 de
agosto de 2013)
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