Adeildo Vieira
Acorda, poeta! Olha o serviço!!!
É o que naquela noite gritava a poesia praquele bardo que imaginava passar
impune a uma inspiração.Despertado pela poderosa, o poeta Águia Mendes me
ligaria no dia seguinte pra avisar que chegaria atrasado ao trabalho, pois
teria transformado a noite em dias. Sim, eu tenho o privilégio de dividir meu
ambiente de trabalho – no DECOMTUR/UFPB - com este colega cuja maior doença é a
compulsão de botar bois pra pastar nas nuvens e pendurar o sol em algibeiras,
títulos de seus dois últimos livros. Santa enfermidade! Ao lado da poesia em
pessoa eu acabo abrindo deliberadamente a guarda de minhas defesas
imuno-poéticas, manifestadas emforma de dispersão do pensamento, pra contrair poesia
em estado compulsivo. Surgiram daí canções em parceria com o tímido poeta, que
não gosta de câmeras ou alardes em torno de sua pessoa, mas que, de tão
inspirado, trouxe saúde pra minha obra musical.
O poeta Águia Mendes é o único de
quem tenho conhecimento que é tocaiado pela poesia. Quando alvejado por um súbito
golpe de inspiração, entra em crises de convulsão poética e produz poemas
latejados que roubam suas noites de sono e tumultuam seus dias. Santo tumulto!
O resultado disso são torrentes de palavras que, quando a serviço de nossas
canções, nos servem ao deleite. Aliás, quer inocular o poeta com o santo
veneno? É simples, basta apresentá-lo a uma melodia. Isso já é o suficiente pra
que desgoverne o trem de sua criação ladeira abaixo. Agora sai da frente, pois
o trem só pára em seu destino final: uma canção. Quanto a isso, sou réu
confesso. Quero confessar em público que já pus o amigo poeta em santos apuros
com acometimentos musicais, ao que safou-se com maestria. A essas culpas exijo indulgência, pois não considero
justo condenar aquele que presenteia o faquir com facas de prata, sabendo que
está contribuindo pra beleza do espetáculo. Aliás, exijo perdão também tantos
outros compositores que se enfileiraram na provocação ao poeta. Isso faz de Águia
Mendes um dos mais profícuos ornamentadores de melodias em nosso estado.
Uma canção é uma mensagem com
som. Ela precisa dizer algo, e que esse algo seja dito com beleza, grandeza,
maestria, graça e bom gosto. Letrar uma melodia é labor musical. As palavras alinhavam
a estrutura melódica, amalgamando idéias e sentimentos dentro de um conceito
estético. É preciso sentir o ritmo da canção para traduzi-lo em sílabas, sem
deixar que essa engenhosa montagem provoque o atropelamento de prosódias e
outros danos às palavras, além de por as rimas como elemento sonoro que
contribui para a sonoridade da canção. Isso tudo com densidade de conteúdo, é
claro! Letrista de música émúsico das palavras, compositor de poemas cantados.
Este ofício é exercidoa rigor pelo poeta Águia Mendes, que agrega valor
estético às melodias onde põe a sua pena.
Pois bem, num tempo em que ritmos
e melodias são valorizados em detrimento das letras das canções, quero prestar,
em nome do poeta Águia Mendes, uma homenagem a quem se presta ao maravilhoso
trabalho de moldurar canções com palavras, ofício que tem em Paulo Cesar
Pinheiro um dos maiores mestres na nossa música brasileira, mas que, ao lado
desse meu homenageado, temos o privilégio de contar com Bráulio Tavares,
Ronaldo Monte de Almeida, além de tantos outros engenheiros de canções em nossa
cena musical quetêm sua genialidade escondida pela lamentável omissão da
creditação de atores.
Bom, mas o que posso garantir ao
poeta Águia Mendes é que ainda pretendo lhe trazer muito desassossego.
Sensacional o que acabo de ler, pelo visto Àguia Mendes Te contaminou bonito! Isso que é homenagem poeta! Parabéns pelo postado! Um abç Diná.
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